sábado, 18 de abril de 2009

Madrugada, manhã e noite de domingo, 12 de abril de 2009

Antes, Durante e Depois do Dia Mastroianni
Nesta época meu processo criativo inicia-se com claras referências pela obra de João Paulo Cuenca que retratou a juventude desse novo século com tamanha destreza. Pedro Cassavas, o protagonista de “O Dia Mastroianni” de Cuenca, incorporou-se a mim como pseudônimo, ainda que apenas a serviço de mim mesmo e meu entendimento como artista/cidadão, como objeto de introversão e questionamento. Tal peseudônimo oficiou-se em uma busca incessante por diversas prerrogativas existenciais, meu(s) amor(es), minhas crenças, convicções, e meus percorreres pelo mundo.

Era meados de dois mil e oito, a lembrança me afagava com certezas maravilhosas e dúvidas tempestuosas. O amor ali se fazia e se encarnava, definitivamente, na mundana Doce Maria. Nas mulheres sempre me escaldava e balbuciava terno e errante, com passos firmes e o olhar sempre a frente e ao longe. A armadilha da vida, as escolhas por nós tramadas. A mulher que me amava, bela e doce (como Maria), suja e humana (como eu) esperava atenta aos sinais de alerta de minha chegada. Mas eu nunca chegava... Até a data mencionada. Esta mulher me destinou às artes (não apenas ela), mas enraizou em minha carne interesses e novos olhares que, hoje, me consomem abrasivamente.
Ela, o Teatro e Eu

Eu nunca fui realmente interessado em literatura, teatro, cinema, música, poesia. Na verdade eu nunca procurei essas coisas. Mas ao longo dos meus vinte e poucos anos aventurei-me por pequenas ruas, de vagabundos, prostitutas, bêbados equilibristas, e poetas tristes, e poetas felizes; e pessoas simples, simplesmente felizes na sua própria humildade e simplicidade. Pois é nessa gente que nos encontramos mais perto de entender nossa própria existência. São nelas que a arte se dá, e em versos se proclama a rima; a espinha esfria; o pêlo arrepia. Aos miúdos tudo isso foi se configurando dentro de mim. E assim, consumido, de miúdos em miúdos, n’um dia, hora, instante qualquer, tornei-me músico, e posteriormente poeta. Mas ‘consumido’ não tal qual um parasita. O parasita se apropria, usufrui e segue. Apenas deixa rastros na relva, resíduos de folhas secas, pisoteadas ao longo do caminho. A arte não. Esta rasga, fere, entorpece; e dá movimento, beleza, confusão, clareza. E o que é a vida senão uma imensa miscelânia de sentimentos, estes nos quais o fio condutor é sempre o sofrimento e a angústia. E só digo isso pela qualidade de meu ofício. Sou poeta. Sigo a pé, “pisando a terra e olhando o céu preso pelos extremos intangíveis” - assim já dizia o maior dos pequenos poetas.
Na poesia, hoje, consolido um matrimônio. Amor eterno, confortante. O teatro invadiu-me impuro, sem véu ou lua de mel. Despertou a fugacidade de uma paixão errante, derradeira. Sem hora marcada invadiu minh’alma por detrás dos olhos verdes de uma menina-mulher, uma mulher-menina.


É por ela que eu clamo, me configuro e desconjuro as estrelas sem o menor temor. Estou vivo, atento, percebendo o mundo no bater dos calcanhares no solo, no ranger das portas, nas intortuosas conversas com ela... a mulher que me amava. Fez por mim o que ninguém jamais foi capaz. Lançou-me à espectros irreconhecíveis até então, e na medida em que eu crescia, vivia, sentia, mais eu me reconhecia por detrás dos olhos dela, através de sua alma. E em silenciosas palavras trocadas em lugares por nós nunca antes visitados.
Eu não disse que a arte à mim era uma desconhecida. Já compunha e destilava lamentos em versos de poemas e estrofes de canções embuídas de sentimento. Mas ela... com ela é diferente! O contato com a literatura e o teatro jorraram novas afluências em meu ser, inseriram-se novas premissas em minha maneira de fazer, ver e reconhecer minhas próprias criações. Minha música já respondia a ela antes mesmo de eu me permitir amá-la mulher, já a acariciava com versos brandos de quem a acompanhava e alimentava. Eu a entendia, entendo e sempre irei entendê-la. Foi em seu “pano de guardar confetes” que eu cantei às 4 paredes de sua casa os confetes que compus com tanto zelo. Ela sabia e ainda sabe que apenas eu enxergo dentro dela.

Cassavas é isto para mim, em parte meu amor eterno por panos de guardar confetes e gemidos ternos desbravando a pulsação penetrante de um sentimento simples e incrivelmente complexo, e minha busca incessante por entender o meu lugar nesse vasto mundo (ao lado dela, sempre) alçando vôo em balões de ar quente e harmonias e estrofes de um violão errante.

Pedro Cassavas é a eterna negação de uma juventude, tal como ele, perdida e despropositada. É a tentativa de romper com um diagnóstico cada vez mais certeiro, de que nós, jovens, hoje estamos a serviço de um presente alarmante e um futuro sem sonhos. Ainda assim Pedro Cassavas é o sonho, o arrepio, a capacidade de enxergar a beleza no singelo, no que se cala, no que está presente mas se ausenta. Por fim, este "nobre" rapaz, nada mais é do que uma fração de cada um de nós, possuídos no nosso próprío ego, desprovidos de uma crítica dissonante e ainda assim, mesmo que aparentemente calados, distantes, é a eterna canção errante que nos diz que é possível acreditar em um final feliz!!! Fechem os olhos, vamos decolar!

Tijolos Amarelos
(Rachel Rabello ou Doce Maria ou Catarina Kandisnky)

Viverá rodeado de amigos bêbados e felizes, que o amam e admiram; passará o resto dos seus dias em bares escuros da Lapa apresentando obras que serão reconhecidas, com o tempo; fugirá dos compromissos que o sufocam com um cigarro na mão e uma argumentação na boca, racionalizará, só pra depois descobrir que certas coisas são pra ser assumidas e arriscadas. Pulará no abismo do agora.Cairá num balão multicolorido e voará sem um destino pré-definido, e, assim, noites passarão e dias tornarão a nascer, num ciclo intenso, igual e completamente mágico.
À deriva, talvez precise de um empurrão ou outro pra se lembrar da música que dizia sobre ter pra quem voltar. A incerteza do futuro não me deixa pensar que eu estarei de luto, esperando no cais, como as portuguesas que acenam para os maridos pescadores, mas prometa que voltará e eu te esperarei com a expectativa de ouvir uma história mirabolante e de criar, finalmente, a nossa história mirabolante.
Sem promessas, a promessa da sua vida ainda está por vir e tantas coisas aparecerão e desviarão os nossos caminhos que seria egoísmo pensar em nós dois, apenas em nós dois. Seremos artistas do mundo e, justamente por pertencermos a todos, teremos a certeza de que pertencemos a nós mesmos e em todos os silêncios posteriores a cumplicidade do nosso olhar nos salvará: amar é isso, salvar e ser salvo. Mas você não quer ser salvo, então você se entregará sem se entregar, como quem vai a um banquete, come de tudo e ainda sai com fome, sentirá o vazio no peito e a dor provocada e o preencherá da maneira mais mundana e garantida: enquanto sente o gosto amargo do álcool pensará em esquecer e esse pensamento constante só o lembrará mais do vazio que o consome e a idéia de solidão invadirá e nada, nem mesmo a multidão que assistirá os seus shows, acabará com a solidão daquele momento. Então sorrirá, dará gargalhadas de doer a garganta porque verá que nunca se sentira tão vivo quanto ali, aí sim o balão estará sem controle e começará a girar, a girar e a girar, como o bar sujo em que você estará e perceberá que mesmo rodeado de amigos bêbados e felizes, você sempre esteve sozinho.
Acenderá um cigarro e começará a andar.

Novas proposições vêm a mim diariamente e dilaceram meu cerne, o qual não consome de forma tão eficiente tantos clarões em minha mente. Orquestras industriais, confrarias de artistas circenses, telas companheiras, amigos de revirão, revirão de amigos, projeções em quadros semi-estáticos em semi-movimento, histórias fantásticas, paródias, hermanos, hendrix, portinaris, degas, goya, tarsila, abaporu comendo gente, lua cris e panelas em parvo escarcéu, barravento, catavento, gerúndios, infinitivos, infinitos, arte em LCD, arte em papel maché, pequenos príncipes, rosas, meu eterno herói de megafone no fronte do picadeiro (o herói dos marginais contemporâneos)... É tanta a convulsão e vasta minha insensatez que o tempo me some, esvaíndo-se, escasso e impaciente. Muitas vezes irritante.

Uma alegria, hoje, me desperta. Após anos, quase milênios, reconheço-me como artista. Artista da vida, do mundo, da curiosidade infantil e maravilhosamente ingênua na qual não detenho as ferramentas mas concretizo. SIM! Concretizo puro e fiel aos meus verdadeiros anseios e dentro de minhas capacidades.

Devo isso a meu herói marginal e seu circo (e ela claro!).

Este herói batizou em minha vida cotidiana novas formas de agir e pensar; conversas longínquas em varandas sob o luar me fizeram mais completo e sabedor de que tenho um amigo para compartilhar todas as magníficas e cruéis (des)graças de ser um artista, de pensar mais, confundir-se à todo momento e girar, girar, assim como a menina que fala dos tijolos amarelos. Há também Nina, que me assombra pela casa quase que constantemente e derradeiramente me mostra a falta que tenho com o mundo, a saudade e identificação que tenho dela e seus cavaletes e órgãos alemãos encostados na parede; e festas lotadas de pessoas gigantes (eu ainda próximo aos joelhos). Socialytes instigantes ornando jóias e exalando perfumes francêses.

Teorema

Quando eu me via
Eu não lhe tinha
Quando eu lhe tinha
Eu não me via

Será que a soma das partes é, inevitalmente, a diferença que acolhe a semelhança entre as mesmas?


Sucumbe em mim cada vez mais a noção da liberdade, pois qualquer pensamento que afronte o balão que carrego no bolso não está mais disposto que eu a atravessar as interrogações inerentes a andar por aí. Acredito que umas das transições foi feita, apesar de ainda preso a donzela do sonho e dos confetes, de certa maneira esta prisão me movimenta e me faz mais artista, mesmo que à distância.

Todo esse falatório na verdade foi deflagrado por uma simples idéia, na medida em que desenvolvia conceitos estéticos para minha confraria de músicos, linhas de identidade visual em LCD, no tati-bitate do relógio na madrugada e na tipografia bicolor na qual eu brincava começaram a surgir nomes, referências, clamores de grandes pintores. Vieram à mim Cassavas e Dostoievsky com suas Histórias Fanfásticas e penso: Por quê não criar minhas próprias histórias fantásticas? Seja lá para quem for, parece-me sensato fazer isso.

Eis que surge uma promissora idéia literária: a Novela Vaga, referenciando a ‘nova onda’ francesa. E dessa promissora sacada um outro pseudônimo que acredito responder mais por mim, tendo em vista tudo o que eu falei nas linhas que se antecederam. Rabello Catavento nasce, um viajante curioso desbravando o cotidiano de cidades do mundo e conhecendo grandes figuras em diversos países. Começo a trabalhar com a idéia dos nomes dos personagens buscando identidades em momentos da pintura e características humanas. Inicia-se o troca-troca de nomes e codinomes, tal como:

edgargoya joaquimabaporu catarinakandinsky

Rabello Catavendo ao longo de suas tenra jornada irá cruzar capítulo por capítulo com cada um dos personagens a serem desenvolvidos até chegar ao último capítulo entitulado com seu nome no qual descobre o motivo de toda sua caminhada. O enredo se desfaz em poemas, romance, música, vídeo e artes plásticas montando uma convergência imensa entre todas essas ferramentas.

Integrar-se-ão artistas para compor tal obra e trazer a universalidade de cada pensamento.

Fechem os olhos, vamos decolar!

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